01. Muitos falam sobre a China como se fosse um país normal e não uma tirania capaz de empalidecer qualquer criação orwelliana ou huxliana. Como o Partido Comunista exerce um poder centralizador, não há divisão entre a esfera pública e a privada; ambas são totalmente controladas pelo Estado.
02. Não faltam exemplos que ilustrem isso, mas há um que é particularmente curioso: o do turismo. É o Partido Comunista da China que decide quais destinos cada pessoa pode visitar e a quantidade de pessoas que pode visitar esses destinos — isso quando não há um banimento total.
03. Esse controle dá ao Estado chinês um conjunto de armas que nenhuma democracia liberal possui. Tivemos um exemplo disso em 2017, quando, irritada com um sistema de defesa anti-mísseis da Coréia do Sul, o a liderança do Partido Comunista da China impediu qualquer visita ao território sul-coreana, causando aos coreanos um prejuízo de $7 bi.
04. Como disse, esse é apenas um dentre muitos exemplos. Há outros no âmbito da política fiscal, da política cambial, da política de investimentos, so on and so forth — e nenhum deles segue as diretrizes do direito internacional como ocorre com as sanções ocidentais.
05. Isso significa que quanto mais dependente um país é da China, como ocorre com o Brasil, mais o Partido Comunista da China é capaz de determinar os rumos políticos e econômicos daquela país, conseguindo afetar suas eleições, seus investimentos e até suas políticas macroeconômicas.
06. Esse é o motivo pelo qual países como a Austrália, a Nova Zelândia, o Canadá e mesmo os EUA têm buscado políticas para se proteger contra essa poderosa influência externa, adotando leis e novas estratégicas que os permita reagir a esse quadro.
07. Notem que a China é país com uma clara estratégia de ascensão e que objetiva se tornar o hegemon internacional, para exercer externamente o mesmo poder que exerce em seu próprio território — um poder planejado centralmente e com todos os elementos de uma tirania.
08. Nessa estratégia, o Brasil é apenas uma fonte de energia, minérios e alimentos e não um parceiro ou um aliado. Essa situação é agravada pela ignorância brasileira sobre a China, algo que não ocorre por lá, onde, bizarramente, o Estado decide até quantas (e quais) crianças irão aprender português e estudar sobre o Brasil.
09. A ascensão e o expansionismo subsidiado da China são particularmente perceptíveis na América do Sul, onde produzem uma série de prejuízos e embaraços para a posição regional e internacional do Brasil, e por isso demandam ainda mais atenção por parte dos nossos intelectuais, dos nossos empresários, dos nossos diplomatas e dos nossos políticos.
10. Levar isso tudo em consideração no cálculo que define nossa relação bilateral com Pequim para que esta seja mutuamente benéfica e não apenas um instrumento a serviço do interesse chinês, como faz o Deputado Jair Bolsonaro, é questão de inteligência estratégica e não de protecionismo ou estatismo.
11. Lidar com essa questão com dogmatismo doutrinário liberal pode ser um erro fatal que, no longo prazo, se voltará contra os próprios fundamentos das doutrinas político-econômicas de quem costuma ser crítico a essa revisão das nossas relações com Pequim.
12. É certo que não deve haver espaço para considerações ideológicas em nossa política externa e que é importante buscar benefícios em todos os quadrantes do mundo, mas sem estratégia e pragmatismo não poderemos nos irritar quando formos chamados de "anões diplomáticos" ou sofrermos as consequências da volatilidade de quem opera no plano internacional sem qualquer estratégia.
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Na imagem (um pouco desatualizada) é possível ver qual é o principal parceiro comercial de cada estado brasileiro, o que dá uma ideia da importância das relações comerciais que mantemos com a China e do quão delicado é fazer os ajustes necessários.
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