Renato Rabelo - União Africana sofre ciber-espionagem da China:

A União Africana é um grande bloco político-econômico fundado em 2002, nos moldes da União Europeia, que visa a integração de todas as nações africanas; propondo, inclusive, que as nações participantes adotem uma moeda única, o Afro, que vai vigorar a partir de 2028. Esta organização derivou da antiga Organização da Unidade Africana, que inaugurou a fórmula pan-africana, proposta por Kwame Nkrumah (lê-se: “Cuamê Cruma”). Kwame Nkrumah, por sua vez, foi um líder comunista, presidente de Gana, que escreveu o “Manual de Guerra Revolucionária” e o livro “A Luta de Classes na África” (em uma tradução livre) [1].

A formação de monopólios e de grandes blocos políticos, como a União Africana sempre interessou aos comunistas. Através destes centros unificadores eles podiam driblar as soberanias nacionais, precisando de menos canais de comando para infiltrar e controlar; que manteriam à sua disposição uma base central de dados por onde teriam uma visão ampla de um continente inteiro, para obter vantagens econômicas e militares. O histórico de aproximação da Organização da Unidade Africana e da atual União Africana com os comunistas tem que ser evidente para que entendamos as noticias a seguir.

Segundo o jornal francês Le Monde [2], a China está roubando informações da União Africana desde 2012. “Eles estão lá 27 horas por dia” é uma das frases da matéria, ao citar que microfones foram descobertos na sede da organização por técnicos da Argélia e da Etiópia [3], além de outros equipamentos que foram plantados nas paredes e mesas dos escritórios. Os técnicos afirmam que “não são ouvidos” a respeito das falhas de segurança da instituição.

Esta história começa, na verdade, quando a China doa um prédio de 200 milhões de dólares para a União Africana na Etiópia. No Brasil, a notícia foi tratada como uma vitória gloriosa para os dois lados [4]. O que ninguém sabia por aqui é que nem no comunismo existe almoço grátis – o prédio era um Cavalo de Troia cheio de “backdoors” (canais secretos de informática que dão acesso a todas as comunicações internas da organização). Os picos de tráfego dos servidores durante a madrugada, quando não havia nenhuma atividade no prédio, desde a sua inauguração em 2012, foi um dos principais indícios que apontaram a atividade espiã.

Apesar da revelação, o presidente da Comissão da União Africana, Moussa Faki (lê-se: “Mussa Faki”), disse que “é tudo mentira” nestas revelações. O primeiro-ministro etíope, Hailemariam Desalegn (lê-se: “Railemaria Dessalen”) , disse que “não há nada para espionar, não acredito”. O embaixador chinês Kuang Weilin (lê-se: “Cuã Ueilin”) chamou a reportagem de “falsa e sem sentido”.

Mas, na verdade, ter acesso a informações de um continente inteiro através de um só ponto é estrategicamente interessante, principalmente porque há muita informação sensível a se coletar na sede unificada de todas as nações africanas - e todos eles sabem disto [5]. Para piorar estas declarações, a União Africana escondeu este fato por quase um ano depois de descoberta a espionagem. Por que ela esconderia a ciber-espionagem chinesa se não havia de fato “nada para espionar”?

O que está sendo combinado nos bastidores diante de tão flagrante cinismo, portanto, continua sendo um mistério para o mundo. Para nós, porém, até mesmo a existência da União Africana parece ser desconhecida pelo grande público e este tão grande evento de espionagem nos foi totalmente ocultado pela grande mídia. A cumplicidade entre a UA e os chineses parece se estender ao Brasil através de uma macabra cortina de silêncio que está nos mantendo no escuro, enquanto os comunistas avançam apressadamente em direção ao Ocidente. Até mesmo a mídia alternativa, que entregou timidamente a notícia, apenas mostrou a negativa africana e chinesa, ocultando ao máximo a bem fundamentada acusação de ciber-espionagem revelada pelo jornal francês.

Para ver as notícias originais, cheque as notas de rodapé do blog Generalidades, do Jacaúna Medeiros.

Notas:

1 – Handbook for Revolutionary Warfare (1968). ISBN: 978-0901787019; Class Strugle in Africa (1970). ISBN: 978-0901787125.

2 – Notícia original no Le Monde: http://www.lemonde.fr/afrique/article/2018/01/26/a-addis-abeba-le-siege-de-l-union-africaine-espionne-par-les-chinois_5247521_3212.html .

3 – Detalhes espalhados sobre o ocorrido: https://www.epochtimes.com.br/china-espiona-uniao-africana-por-meio-de-edificio-que-construiu-para-instituicao/; e https://observador.pt/2018/02/08/china-e-uniao-africana-negam-espionagem-de-pequim-a-sede-da-organizacao/ .

4 – Doação de prédio pelos chineses é comemorada em site brasileiro: http://www.vermelho.org.br/noticia/174288-1 .

5 – Visões estratégicas sobre o ocorrido: https://www.cfr.org/blog/african-union-bugged-china-cyber-espionage-evidence-strategic-shifts .





Renato Rabelo é tradutor, ativista político e palestrante.

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