Filipe Martins - Sobre a pesquisa encomendada pela Revista Crusoé:

PARANÁ PESQUISAS: A DESACELERAÇÃO DE BOLSONARO E A POSSIBILIDADE DE VITÓRIA NO 1° TURNO

01. A Revista Crusoé (mantida pelo Antagonista) e a Empiricus encomendaram um novo levantamento do Paraná Pesquisas, que foi divulgado hoje. Esse levantamento merece especial atenção por confirmar as críticas e considerações que tenho feito acerca das pesquisas do Ibope e do Datafolha.

02. Realizado entre os dias 23 e 25 de setembro, o levantamento mostra um cenário em que Bolsonaro e Haddad seguem crescendo, enquanto os demais candidatos seguem caindo.

03. Bolsonaro cresceu 4,6 pontos percentuais em relação à pesquisa do dia 12 de setembro, chegando a 31,2% dos votos totais. Haddad cresceu 11,9 pontos percentuais no mesmo período e chegou a 20,2% dos votos totais.

04. Ciro Gomes, Geraldo Alckmin e Marina Silva continuam derretendo e caindo nas pesquisas, ficando cada vez mais distantes da disputa que ocorre no topo e se aproximando dos demais candidatos, que não possuem qualquer chance de vitória.

05. A movimentação apresentada nessa pesquisa, que utiliza uma metodologia muito parecida com a do Ibope, confirma minhas teses de que (a) Bolsonaro passa por uma desaceleração natural e não por uma estagnação; e de que (b) o Ibope está atribuindo o piso da margem de erro para Bolsonaro.

06. Na semana passada, afirmei, como venho fazendo há algum tempo, que Ibope e Datafolha estão atribuindo o piso da margem de erro a Bolsonaro (28 em vez de 30, no caso da pesquisa daquela semana). Ontem, afirmei que o Ibope fez o mesmo na pesquisa divulgada na segunda-feira (28 em vez de 31 nesta última pesquisa).

07. Considerando o intervalo ligeiramente maior entre os levantamentos do Paraná Pesquisas, o que os dados deste último levantamento mostram é que minhas estimativas e ponderações estavam corretas.

08. No texto que publiquei aqui ontem sobre a pesquisa do Ibope, também defendi que Bolsonaro não estava estagnado mas apenas em desaceleração, crescendo numa margem percentual baixa, o que permitia ao Ibope represar os números de crescimento com uma manobra dentro da margem de erro.

09. Essa manobra é possível, basicamente, porque o crescimento entre o dia 17 e o dia 24 (intervalo entre as duas últimas pesquisas do Ibope) foi menor do que o crescimento entre o dia 12 e o dia 26 (intervalo entre as duas últimas pesquisas do Paraná Pesquisas). Como houve uma desaceleração natural, o crescimento entre o dia 17 e o dia 24 foi de apenas 1%, o que permitiu ao instituto contratado pela Rede Globo manter no dia 24 os mesmos 28% do dia 17.

10. Em suma, no Ibope da semana passada, Bolsonaro tinha 30 e não 28; no Ibope desta semana, Bolsonaro deveria ter algo em torno de 31, mas aparece mais uma vez com 28, uma vez que o crescimento de apenas 1 ponto percentual permite esse rearranjo sutil dentro da margem de erro.

11. Considerando as diferenças metodológicas (o Paraná se parece mais com o Ibope do que com o FSB/BTG do ponto de vista do método adotado) e fazendo as ponderações necessárias, é possível afirmar que o piso de Bolsonaro é de 30%, com uma probabilidade alta de que o candidato do PSL esteja consolidado com cerca de 35% dos votos totais (36.4% pra ser mais exato), o que deve se confirmar só nas pesquisas que serão divulgadas às vésperas do pleito.

12. Com o auxílio desses novos dados, posso concluir, portanto, que todas as estimativas que fiz nas semanas anteriores estavam corretas e que Bolsonaro tem lugar garantido no segundo turno e continua tendo chance de vitória no primeiro — essa chance pode ser estimada probabilisticamente entre pequena e média, com tendência de alta.

13. Na última pesquisa do FSB/BTG, Bolsonaro tem 33% dos votos totais. Na última pesquisa do Paraná Pesquisas, Bolsonaro tem 31,2% dos votos totais. Na última pesquisa Ibope, Bolsonaro tem 28% (31% após as devidas ponderações) dos votos totais. Em meus cálculos, ele tem 36%.

14. Com algo entre 36 e 38 por cento dos votos totais, em um cenário de abstenção alta (>28%), Bolsonaro venceria no primeiro turno.

15. A grande questão aqui é estimar corretamente a abstenção total (incluindo brancos e nulos) e sua distribuição entre os eleitores de cada candidato. Para chegar a esse número é preciso conhecer pelo menos o histórico de abstenção dos distintos perfis demográficos e o nível de engajamento e convicção dos eleitores (variável na qual Bolsonaro é imbatível).

16. Assim, considerando a possibilidade de que 10% dos eleitores que se identificam com Bolsonaro não votem no dia 7, em um cenário de abstenção total de 29%, o candidato do PSL teria hoje algo entre de 42 e 46 por cento dos votos válidos — o que significa que ele pode estar a 3 pontos percentuais (em votos totais) da vitória.

17. A militância terá um papel decisivo na reta final, tanto na conquista dos poucos eleitores que ainda estão indecisos quanto no convencimento dos eleitores de Alckmin, Alvaro Dias, Amoêdo, Meirelles e Marina Silva, a quem os apoiadores de Bolsonaro terão que mostrar que é possível resolver a disputa no primeiro turno, sem dignificar o criminoso Partido dos Trabalhadores com a participação no segundo turno.

P.S.: Acompanhem também o conteúdo que tenho publicado exclusivamente no Twitter: @filgmartin

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