Brasil-fronteiras - 28 anos de Operação Traíra:

Crédito da imagem - Exército Brasileiro
A Amazônia Brasileira foi elevada à situação de área estratégica prioritária, em face dos múltiplos conflitantes aspectos que a caracterizam, conferindo- lhe uma problemática política, econômica, psicossocial e militar altamente especial, delicada e sensível. O presente artigo procura decodificar as lições aprendidas nas diversas experiências de guerrilha vivenciadas na Amazônia, tentando estabelecer um paralelo entre o passado, o presente e o futuro.

O Presente

12:00 horas de uma terça-feira, dia 26 de fevereiro de 1991. Cerca de 40 elementos que se declararam guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias Comunistas (FARC) - Comando Simón Bolívar - Facção Força e Paz, realizam uma incursão em território nacional e atacam um Destacamento do Exército Brasileiro estacionado em instalações semi-permanentes, às margens do rio Traíra, fronteira entre o Brasil e a Colômbia.

O ataque foi efetuado por três escalões, dos quais um, o de apoio de fogo, permaneceu na margem colombiana, enquanto os outros dois, de assalto e de segurança, investiram o acampamento. Inicialmente, com preciso fogo de atiradores de escol, foram eliminados os sentinelas da hora, e a seguir, desencadeado intenso fogo de armas automáticas contra as instalações do Destacamento, cujos integrantes, surpreendidos, tentaram, sem sucesso, reagir.

Em decorrência da ação, da guarnição de 17 homens, resultaram três soldados mortos e nove feridos. Morreram também dois garimpeiros clandestinos colombianos que estavam detidos no posto aguardando evacuação para Vila Bittencourt/AM.

Na finalização da operação, os guerrilheiros colombianos apropriaram-se de estações rádio, munição, uniformes e todo o armamento do posto, conduzindo todo o material para o seu território. Aparentemente, não sofreram baixas. Portavam armamento automático HK 5.56 mm e armas de caça calibre 12. Trajavam uniformes de cor verde claro e botas de borracha do tipo "sete léguas". Faziam parte do comando atacante duas mulheres identificadas como já tendo sido anteriormente presas no Destacamento.

A instalação do Destacamento Traíra foi uma decisão do Comando Militar da Amazônia, autorizada pelo Sr Ministro do Exército, Comandante da Força Terrestre, para fazer face à tumultuada situação reinante na região da Serra do Traíra/AM, provocada pela presença de grande número de garimpeiros clandestinos brasileiros e, principalmente, colombianos, que para lá se deslocaram após a desativação das instalações da Empresa de Mineração Paranapanema, que detinha o alvará de pesquisa aurífera cedido pelo Governo Federal.

Em posteriores operações de inteligência ficou comprovado que a guerrilha colombiana aliada a cocaineiros e garimpeiros clandestinos colombianos, e também contando com o beneplácito de alguns índios corrompidos pela narcoguerrilha na região, procuravam as regiões auríferas nos antigos garimpos abandonados da Cia Paranapanema, a fim de obter recursos para suas ações subversivas. Dessa forma, a ação da guerrilha colombiana foi efetuada como uma represália à ação repressiva desencadeada pelo Destacamento Traíra.

Há que se ressaltar que a atuação do Destacamento Traíra, instalado sob a responsabilidade do então 1º Comando de FronteiraSolimões/1º Batalhão Especial de Fronteira (1º Cmdo Fron-Solimões/1º BEF), sediado em Tabatinga/AM, se limitava a uma ação específica de manutenção da ordem, visando tão somente expulsar garimpeiros colombianos de volta ao seu território, e impedir a vinda de garimpeiros brasileiros para a área, até que o Governo Federal regularizasse a situação da lavra no local, provocada pelo abandono da Empresa Parana panema.

O ataque das FARC contra o Destacamento Traíra foi uma ação inesperada, covarde, traiçoeira e inusitada, em virtude da missão que o Destacamento cumpria, e de nunca se ter tido notícia de fatos dessa natureza, desde a instalação, na Amazônia, dos primeiros Pelotões de Fronteira do Brasil.

A ação de 26 Fev 91 das FARC no rio Traíra desencadeou o planejamento e a execução de uma operação conjunta efetuada pelas Forças Armadas Brasileiras e Colombianas, denominada "Operação Traíra". Esta Operação foi a principal conseqüência da Reunião Extraordinária Regional Bilateral Brasil/Colômbia, com a participação, pelas forças colombianas, de autoridades do Comando da IV División del Ejército Nacional de Colombia, sediado em Vila Vicenzio/Col e, pelas forças brasileiras, de autoridades do Comando Militar da Amazônia, sediado em Manaus/AM.

Esta Reunião estabeleceu vários Acordos Conjuntos e algumas Recomendações que, basicamente, definiram que as respectivas forças se comprometiam a operar em seu respectivo território, com o objetivo de manter a ordem e a tranqüilidade na região fronteiriça. Ficou também estabelecido que as ações a realizar seriam coordenadas de forma plena, em todos os níveis de planejamento, inclusive com o intercâmbio imediato e contínuo de informações relacionadas com a subversão, o terrorismo e o narcotráfico, visando a neutralização de qualquer ameaça que se apresentasse no respectivo território. Foi também recomendado que os Exércitos do Brasil e da Colômbia promovessem gestões junto aos seus respectivos governos no sentido de incrementar na área a presença de organismos do Estado, orientados para a execução de atividades de desenvolvimento comunitário.

No território nacional, o posto de comando instalado pelo CMA ficou em Vila Bittencourt, sede de um dos Pelotões na fronteira com a Colômbia. No território colombiano, o posto de comando ficou em La Pedrera/Província de Taraira.

Os resultados obtidos na "Operação Traíra" foram extremamente significativos. Pelo lado colombiano, deve-se destacar a eficiente ação do Batalhão "Bejarano Muñoz", sediado em La Pedrera/Taraira. Pelo lado brasileiro, o excepcional desempenho dos combatentes do então 1º Batalhão Especial de Fronteira (1º BEF), hoje, 8º Batalhão de Infantaria de Selva (8º BIS), sediado em Tabatinga/AM. Superando com estoicismo o trauma inicial que enlutou a família tabatinguense, o 1º BEF, fundamentado numa liderança do mais alto padrão em todos os níveis de comando, demonstrando um excelente grau de adestramento, um moral e um espírito de corpo extraordinários, foi o grande responsável pela ocorrência da eliminação de doze guerrilheiros integrantes do comando das FARC que atacou o Destacamento Traíra, bem como pela prisão de inúmeros elementos de sua rede de apoio, e pela recuperação de boa parte do material capturado quando da solerte ação terrorista.

Há também que se destacar a efetiva participação dos elementos do tradicional "Batalhão Amazonas", 1º Batalhão de Infantaria de Selva (1º BIS), sediado em Manaus, unidade de elite do CMA que, como sempre, ratificou o seu excelente nível de preparo para as operações em ambiente de selva.

Especial atenção deve ser dada também à atuação dos elementos da Reserva Estratégica do Exército Brasileiro, sempre presentes nas situações de crise na Região Amazônica, das Forças Especiais e da Aviação do Exército.

Mais uma vez foi ratificado que a presença dos especialistas em guerra irregular e combate não-convencional do 1º Batalhão de Forças Especiais (1º BFEsp), sediado no Rio de Janeiro, através da ação de um Destacamento de Ação Imediata, integrado por frações de Forças Especiais e Ações de Comandos, se faz imprescindível ao comando da operação, em situações dessa natureza.

Com relação à Aviação do Exército, há que se ressaltar que a "Operação Traíra" se constituiu num marco histórico altamente significativo. Esta foi a primeira oportunidade em que a então recém criada Brigada de Aviação do Exército (Bda Av Ex), sediada em Taubaté/SP, se viu engajada numa operação real de combate na Região Amazônica, o seu verdadeiro batismo de fogo. E o desempenho da Patrulha Ajuricaba, integrada por 4 helicópteros de manobra HM-1 Pantera, 2 helicópteros de reconhecimento e ataque HA-1 Esquilo, reforçados por pessoal de suprimento e manutenção, foi excepecional. Estas aeronaves, inclusive, apoiaram, por solicitação do comando colombiano, as ações de infiltração do comando colombiano, as ações de infiltração e ressuprimento das patrulhas colombianas. E após o término da "Operação Traíra", uma seção, constituída por duas aeronaves HM-1 e uma HA-1, permaneceu baseada em Vila Bittencourt, por mais de seis meses, operando em apoio às ações do 1º BEF na região do Traíra. É importante ter em mente que operar aeronaves de asa rotativa na Amazônia exige padrões de desempenho especiais que ultrapassam em muito os exigidos para outras áreas. Quando se está em presença de uma situação real de combate, estas demandas se tornam ainda mais significativas, e tudo isso foi superado pelos elevados níveis de adestramento, motivação e liderança dos integrantes da Aviação do Exército.

Também não se pode deixar de considerar a decisiva participação da Força Aérea Brasileira (FAB). Além de apoiar oportunamente a concentração estratégica e o apoio logístico com aeronaves C-130 Hércules e C-115 Búfalo, a FAB se fez representar no posto de comando da operação por um oficial superior do VII Comando Aéreo Regional (COMAR VII), sediado em Manaus, que desempenhou, no estado-maior constituído, as funções de coordenador do apoio aéreo. A ele cabia a tarefa de planejar e conduzir o emprego dos meios aéreos alocados à operação pelo Comando Geral do Ar (COMGAR). Estes meios eram, basicamente, constituídos por duas aeronaves C-95 Bandeirante, de reconhecimento aerofotogramétrico, seis helicópteros UH-1H e seis aeronaves de ataque ao solo AT-27 Tucano, todas baseadas em Vila Bittencourt.

A "Operação Traíra" ratificou mais uma vez que, na Amazônia, sem o adequado e oportuno apoio da Força Aérea, a Força Terrestre fica extremamente limitada nas suas ações de combate, apoio ao combate e logísticas.

A Marinha do Brasil também se fez presente na "Operação Traíra", através da atuação de um Navio Patrulha Fluvial da Flotilha do Amazonas (FLOTAM), sediada em Manaus, que se deslocou para Vila Bittencourt, cooperando com o apoio logístico e incrementando a segurança daquela região fronteiriça.

A insidiosa ação sobre o posto do Traíra, em fevereiro de 1991, registrou de forma significativa a mais importante ameaça aos interesses vitais do Brasil na Amazônia, no contexto da Defesa Externa, nos dias de hoje.
O Exército Brasileiro enviou suas principais tropas de elite: Caçadores Especiais da Força de Ação Rápida e combatentes da Brigada Paraquedista. (Cerca de 150 soldados ao total)

Forças Especiais do Exército Brasileiro e Força Aérea: Brigada de Forças Especiais – Exército Brasileiro e PARA-SAR – Força Aérea Brasileira. (Somando cerca de 100 combatentes)

COMANDOS – Mais de 100 homens

100 Guerreiros do CIGS integrados ao 1º Batalhão Especial de Fronteira, junto com o 1º Batalhão de Infantaria de Selva.

Aeronaves e funções:


6 Helicópteros HM-1 Pantera: Tinha a principal função de invadir o território colombiano, sem aparecer nos radares da Força Aérea Colombiana, já que o governo brasileiro quebrou a promessa de não utilizar aeronaves de combates. Cada uma dessa aeronave, era responsável em carregar combatentes caçadores das forças especiais, para se infiltrar no território inimigo para se obter dados estratégicos, análises cartográficas e calculos de invasão. Após 15 horas, as mesmas aeronaves soltaram os guerreiros das forças especiais e da Força de Ação Rápida, que iniciaram a invasão após 2 horas.

HA-1 Esquilo: Trabalhou junto com o HM-1 Pantera para dar apoio de fogo, que em seguida, transportou rapidamente os integrantes dos COMANDOS para o local da invasão. Como tática de intimidação, também deu cobertura aos guerreiros de selva que estavam de prontidão às margens do rio a 1 km da base, que em seguida, foram os principais responsáveis por invadir e conquistar a principal base da FARC.

NOTA: AS AERONAVES HM-1 PANTERA E HA-1 ESQUILO NÃO PODEM SER PERCEBIDAS NA MAIORIA DOS RADARES, POIS POSSUEM UMA BAIXA ASSINATURA RCS (Radar cross section) QUE INDICA PEQUENA CAPTURA DE ONDAS ELETROMAGNÉTICAS QUE SE FOREM BAIXAS, NÃO PODEM SER IDENTIFICADAS NA TELA. ESSA É A MAIS USADA TECNOLOGIA PARA AVIÃO FURTIVO OU TECNOLOGIA STEALTH. ATUALMENTE É MUITO USADO PELO BRASIL.

Com informações de Guerra e Armas e Defesa Net

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