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| Andréa Fernandes |
O triste evento do falecimento de uma criança de 7 anos causou uma verdadeira “batalha” nas redes, a qual foi potencializada por confronto de “narrativas inflamadas” quando circulou print de matéria do G1 relembrando que em 2010, o avô do pequeno e lindo Arthur VETOU a inclusão das vacinas contra hepatite A, meningocócica conjugada C, pneumocócica conjugada 7 valente, varicela e pneumococo, no calendário da rede pública de saúde prevista no Projeto de Lei que havia sido aprovado pelo Senado naquele ano[1]. E por isso, para algumas pessoas Lula seria “culpado” pela morte do próprio neto, cujo óbito se deu em razão de contrair meningite meningocócica.
Imediatamente, a sempre solidária imprensa pulverizou diversas matérias a título de “checagem e esclarecimento de fatos” inocentando Lula, que cumpre pena de prisão na carceragem da Polícia Federal, em Curitiba. A UOL divulgou “É falso que Lula vetou vacina da meningite: imunização é oferecida no SUS[2]”, informando o portal que “os compartilhamentos são acompanhados de textos que ligam a decisão de Lula à proliferação da doença que vitimou seu neto. Mas a informação é falsa”. A partir daí, a matéria ressaltou que “o veto não tirou vacina contra a meningite do SUS”.
A bem da verdade é que o ex-presidente – à época do veto – alegou que “das cinco vacinas descritas no projeto de lei, três já estão contempladas no calendário de vacinação”, mencionando, ainda, que a inclusão de novas vacinas poderia tornar “mais burocrática e demorada a adoção de novas tecnologias na área de prevenção de doenças, na qual o Brasil é mundialmente reconhecido”.
Nesse sentido, a Portaria nº 3.318/10, do Ministério da Saúde[3]corrobora parcialmente a versão de Lula no tocante especificamente à inclusão da vacina meningicócica C (conjugada), que estava prevista no Calendário Básico de Vacinação da Criança. E apesar do autor do Projeto vetado, deputado federal Alexandre Silveira, afirmar que a inclusão das vacinas no calendário do SUS reduziriam significativamente a mortalidade infantil no país[4], Lula e o Ministério da Saúde acreditaram que não valeria a pena investir na área de prevenção de doenças, pois, nesse caso, a “burocracia” serviria de impedimento.
Assim, está vencido o argumento de que o “veto de Lula” teria sido indiretamente responsável pela morte do seu neto. É muito pior! Na verdade, esse senhor é possível co-responsável por mortes e sequelas de algumas doenças em crianças pobres no Brasil em razão de vacinas imprescindíveis serem impedidas de compor o Calendário Básico devido seu perverso “veto burocrático”. Hoje, sabemos bem quais eram as “prioridades de “investimentos” do ex-presidente.
Explicando melhor a atrocidade cometida por Lula: devido ao descaso do Governo Federal com a saúde pública colocar em risco a população, o Ministério Público Federal de Goiás ingressou com Inquérito Civil em 14 de abril de 2009 objetivando a aprovação pelo Ministério da Saúde da incorporação das vacinas hepatite A e tetra viral (sarampo, caxumba, rubéola e varicela) no Calendário Básico de Vacinação de Crianças[5]. As vacinas mencionadas vieram a integrar o rol das 5 vacinas previstas no Projeto de Lei vetado pelo ex-presidente. Dessa forma, antes de vetar o projeto, Lula e os seus subalternos já sabiam – ou deveriam saber – que essas doenças ameaçavam as crianças por conta dos dados apresentados pelo MPF, mas, o malévolo resolveu vetar um Projeto de Lei importantíssimo para garantir os direitos básicos à saúde e vida da população infantil manifestamente vulnerável.
Ignorando o procedimento instaurado pelo MPF para assegurar a saúde das crianças, o ato hediondo do ex-presidente fez com que infantes de todo Brasil sofressem com essas doenças até julho/2013, no caso da Tetra viral[6], e setembro/2014[7], em relação à Hepatite A [8], sendo certo que a inclusão nos postos do SUS se deu de forma paulatina nos estados. Antes disso, a imunização com a vacina tetra viral estava disponível apenas para as “famílias burguesas” em clínicas particulares[9].
O gesto de desumanidade de Lula é reforçado pela simples leitura do Boletim de Hepatites Virais 2017, que além de mostrar que os casos de hepatite A concentravam-se nos idos de 1999 a 2015, em sua maioria, nas regiões pobres do Norte e Nordeste do país, salienta:
“A incidência de hepatite A é MAIOR em crianças menores de dez anos de idade, independentemente do sexo, e decresce à medida em que aumenta a idade. Os casos nessa faixa etária correspondem a 54,5% de todos os casos notificados no país, no período de 1999 a 2016”[10].
O Acre era conhecido como o “estado da hepatite”, onde a doença era considerada um caso sério de saúde pública. A Secretaria Estadual de Saúde ( Sesacre), informa que de 2007 a agosto de 2012, foram notificados 16.943 casos[11]. A exposição das crianças à doença que alcançou um nível preocupante não gerou em Lula qualquer temor com a disseminação da hepatite A.
Em outubro de 2010, foi confirmada a MORTE DE QUATRO CRIANÇAS por varicela (catapora) pela Secretaria de Saúde[12], e mesmo ocorrendo um caso de morte em Taguatinga, não havia vacina disponível naquela data em todo Distrito Federal, isto com dose custando R$ 170,00. Já em novembro de 2010, ao noticiar a MORTE DE UMA CRIANÇA no município de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, o jornal ‘O Globo’ informou que o número de casos de varicela (catapora), apresentava aumento de quase 300% em relação ao mesmo período no ano anterior, oportunidade em que o pediatra Alessandro Ribeiro Lemos revelou que a situação poderia ser bem pior, uma vez que a notificação dos casos em clínicas particulares não era obrigatória, salientando que “a maioria dos médicos que atende pacientes de catapora medica ou manda a criança para casa e não registra o caso”[13].
Há pesquisa da Fiocruz apresentando as taxas de mortalidade específica por varicela nas faixas etárias das crianças menores de 1 ano e na faixa etária de 1 a 4 anos, nas diferentes regiões do Brasil, no período entre 1996 e 2011, cabendo destacar o seguinte: “Nas crianças menores de 1 ano, as taxas de mortalidade por varicela variam, nas diferentes regiões do Brasil, de 0 a 3,2/100.000/ano, sendo maiores na região centro-oeste e menores na região sul. Em alguns anos, há picos na taxa de mortalidade pela doença, que superam 3/100.000 crianças. As taxas de mortalidade observadas no sudeste são mais elevadas do que as do Brasil”[14].
Quanta covardia com as nossas criancinhas! O “pai dos pobres” não se comoveu com a “ideia progressista” de que a desigualdade social impossibilitava os mais necessitados de terem acesso à vacinação. Logo, esse “papo” de assistência aos mais pobres “só cola” nos discursos em palanques!
O que mais causa perplexidade não é – na melhor das hipóteses – a incompetência de Lula ao vetar o projeto que poderia salvar a vida de crianças, e sim, a militância de alguns médicos usando factoides para inocentar o ex-presidente como o consignado em post na Página do Facebook “Médicos pela Democracia”, a qual replicou um texto do jornalista militante da extrema-esquerda Ricardo Kotscho,[15] que tem por título “Menino Arthur será lembrado como mártir do Brasil dos Bolsonaros[16]”. Sinceramente, é difícil imaginar a capacidade de manipulação presente nas redes ao ponto de impedir que as pessoas raciocinem sobre o significado do vocábulo “mártir”. No dicionário consta que é “pessoa que foi submetida a torturas, a sacrifícios ou à morte por um ideal ou por uma crença; quem se sacrificou em nome da fé ou de suas convicções[17]”. De maneira que a desonestidade intelectual “premiada” com a ignorância de muitos leitores alçou a mártir uma criança que, em tese, faleceu por não ter sido vacinada contra a meningite meningocócica. O “título de mártir” só foi conferido ao pequeno Arthur por causa do “sofrimento” do avô famoso inconformado por receber a justa punição de seus crimes numa confortável prisão.
Por oportuno, convém pegar carona no asqueroso artigo do jornal El País denunciando que “a morte do inocente neto de Lula soltou os monstros do ódio”[18]. O colunista Juan Arias conseguiu a “monstruosidade” de banalizar o Holocausto, trazendo à memória como comparação do desrespeito à inocência da infância “os campos de concentração nazistas onde as crianças eram queimadas vivas porque não serviam para trabalhar”. Além disso, o colunista em apreço extravasou toda sua revolta por não ter havido “respeito” à dor do avô que perdeu o neto delineando furiosas críticas que não pouparam o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL/SP), com o “cuidado cirúrgico” de não atingir o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamoto, que chamou o velório da criança de “festa”[19]. Isso mostra que para Okamoto não houve um “martírio”, e sim, uma “comemoração”, denotando sentimento de “alegria” que não incomoda Juan por não advir de um “bolsonarista”.
Mas, se a morte do inocente neto de Lula supostamente soltou os “monstros do ódio” não seria exagero afirmar que “as mortes dos inocentes netos de brasileiros desconhecidos pela mídia deve manter preso o monstro Lula”, que vetou o Projeto de Lei que previa a inclusão das vacinas hepatite A e tetra viral, o que beneficiaria as camadas mais pobres da população brasileira.
Por fim, lamento muito que os mesmos extremistas que passam a lembrar do “menino Arthur como mártir do Brasil dos Bolsonaros”, ignorem a falecida bebê Celine Vitória – morta por catapora[20] – que deveria ser lembrada pelo “martírio” sofrido em virtude da irresponsabilidade do presidiário Lula. Petistas são mestres em criar “mártires não reconhecidos”!
Andréa Fernandes é jornalista, advogada, internacionalista e Presidente da ONG Ecoando a Voz dos Mártires.
Imagem El País
[1] http://g1.globo.com/politica/noticia/2010/12/lula-veta-projeto-que-incluia-cinco-vacinas-no-calendario-da-rede-publica.html
[2] https://noticias.uol.com.br/confere/ultimas-noticias/2019/03/02/e-falso-que-lula-foi-contra-incluir-vacina-de-meningite-no-sus-em-2010.htm
[3]http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2010/prt3318_28_10_2010.html
[4]https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2010/11/17/calendario-basico-de-vacinacao-da-crianca-incluira-imunizacao-contra-meningite-varicela-pneumonia-e-hepatite-a
[5] https://mpf.jusbrasil.com.br/noticias/100155142/mpf-go-consegue-incorporacao-das-vacinas-contra-hepatite-a-e-tetraviral-no-calendario-de-vacinacao
[6] https://www.bio.fiocruz.br/index.php/noticias/571-tetra-viral-e-incluida-no-calendario-vacinal
[7]http://portalms.saude.gov.br/noticias/svs/14060-sus-passa-a-oferecer-vacina-contra-hepatite-a-para-criancas
[8] https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2014/07/29/governo-inclui-vacina-contra-hepatite-a-no-calendario-de-imunizacao.htm
[9] http://g1.globo.com/bemestar/noticia/2013/09/sus-passa-oferecer-vacina-contra-catapora-para-criancas-de-15-meses.html
[10] https://central3.to.gov.br/arquivo/387533/
[11]http://saude.ac.gov.br/wps/wcm/connect/saude/portal+saude/principal/slide+de+noticias/87d3f4004d5b22fca62bb7d5fe18c70b
[12] http://www.jornaldebrasilia.com.br/cidades/morte-de-quatro-criancas-infectadas-com-catapora-sao-confirmadas/
[13] https://oglobo.globo.com/brasil/crianca-morre-vitima-de-catapora-em-uberlandia-no-triangulo-mineiro-2928446
[14]https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/13514/1/alessandra_mota_ioc_mest_2014.pdf
[15] https://pt.wikipedia.org/wiki/Ricardo_Kotscho
[16]https://www.facebook.com/Medicospelademocraciace/posts/2321311341432356?__xts__%5B0%5D=68.ARAgEJ5mRXuT6G3qE__CGPtb6wGe_wBww0VTBzVdZ0GII5MUrG2cRWXMEH6RuqU-ZnwmrTLLgoZSgXkupBao6rQN07d0j1sBet53ZnFmB2NxFeDRYiOH7W645_YXXh0JDs3–pD9BOqOOrUXNbVnt3cm3CUJ-Ub__3dTh9N_lYFvn-AaURnhB-5_-xzGKRxJDX9KxaBQq7a8J3yEy9waPsDdOjWO7Ffd5D3-7lve_g21sqcy1WsCG9hsD1QrMlR2YGN0W2Y1Uvhjz4M4K8tX7mne9rw6DtHZRNoYVIisFp1GlOJZyRvugIYJWmeMrvRdrMwfYjVQ4IY6E2PLkY7EkNXKl-RH&__tn__=K-R
[17] https://www.dicio.com.br/martir/
[18]https://brasil.elpais.com/brasil/2019/03/02/opinion/1551487708_675741.html
[19] https://republicadecuritiba.net/2019/03/02/video-petista-paulo-okamotto-diz-que-velorio-de-neto-de-lula-e-uma-festa/
[20]https://www.diariodaregiao.com.br/_conteudo/2010/11/cidades/1007873-saude-confirma-que-bebe-morreu-vitima-de-catapora.html
https://ecoandoavozdosmartires.wordpress.com/2019/03/04/as-verdadeiras-vitimas-do-veto-de-lula/?fbclid=IwAR2TJifUi4Jm36cLNC6QkN41wBhpVdVvGpms5bu3tGkI9u1bevU7xn1_Tls
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