A possibilidade de haver Cultura, de fato, disseminada no Brasil:

Parcela da idiotia nacional viu com preocupação a nomeação de Roberto Alvim para o governo recentemente. Falam, assombrados, de um petismo com sinal invertido, como se o diretor fosse criar editais para financiar peças que valorizam a Tradição, a Família e a Propriedade, um teatro de qualidade duvidosa, mas com sinal imagético apontado para a direita.

Na hora que falam sobre o assunto, esquecem duas coisas essenciais. Primeiro, o currículo do cara. Alvim já encenou mais de 100 peças durante 30 anos de uma carreira artística brilhante. Ao contrário daqueles que o criticam, sabe o que é o bom e o mau teatro, tem gosto estético, domínio técnico e erudição. Perto desses macacos, é praticamente um Hércules. E, por óbvio, não vai se render a planos tão idiotas.

Segundo, para os que leem "Guerra Cultural" com preocupação, é preciso entender uma coisa. Guerra Cultural, para todos nós que nos preocupamos de algum modo com cultura, sempre foi, sempre vai ser, em termos de Arte, valorizar o Cânone, o que é bom, o que já foi testado e aprovado pela sabedoria dos séculos.

Entre todas as coisas que Alvim vai fazer, tenho certeza que essa preocupação está presente. Porque, entre outras coisas, é de valorização do Cânone que o país precisa, para formar público, para formar artistas, para preservar aquilo que está se perdendo ou restaurar o que já se perdeu de todo na cultura nacional.

Os liberais que não gostarem podem esperar que o mercado privado, sem intermediação alguma, possa restaurar ou preservar patrimônio histórico. Podem reclamar e eleger modelos fantasmagóricos, mas quem foi eleito foi um conservador, não João Amoedo, talquei?

Eu, do meu lado, vou continuar sonhando que um cara feito Alvim possa ajudar a iniciar uma verdadeira revolução conservadora no teatro nacional. Quero um Festival Shakespeare, com competição (teatro é, na sua origem, competição) entre companhias para encenar todas as peças do bardo. Quero ver os teatros brasileiros dando espaço para Sófocles, Esquilo e Eurípedes, para Gil Vicente, Lope de Vega e Calderón de La Barca, para o teatro elisabetano e para o teatro memorialista inglês, para Gogol, Tchekhov, Turguêniev. Quero ver o Século de Ouro no teatro nacional. Em 4 ou 8 anos de investimento correto, isso é mais do que possível em termos geracionais.

Para cima deles, Alvim. É para criar máquina de guerra cultural mesmo. E que ela produza as coisas mais belas que o teatro brasileiro já viu desde os seus tempos mais gloriosos. Quem não gostar, que se deite no meio do caminho. Vamos passar por cima, by the way.

Eduardo de Alencar, via redes sociais.

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