Para raciocinar direito:

Paula Felix
Se você não faz fotossíntese, você vive da morte de outros seres vivos. Ser vegetariano, vegano, carnívoro, onívoro, tanto faz, é mera questão de gosto. Na verdade, em termos puramente materialistas, biológicos, científicos, assim como em termos morais, matar um vegetal para comer é algo mais grave que matar um animal. Primeiro porque os vegetais são "superiores" aos animais na escala evolutiva: o aparato celular autotrófico é muito mais sofisticado que o heterotrófico e, certamente, surgiu depois; segundo porque não há ser vivo mais inocente que aquele que não precisa matar pra viver.
Toda celeuma em torno do vegetarianismo/veganismo, quando voltados não à questão de gosto, mas moral, baseia-se exclusivamente em questões emocionais, senão vejamos: quem já tirou uma cenoura da terra, passou, assim, na roupa, ou deu uma lavadinha, e comeu, raramente terá meditado no fato de estar tirando uma vida. É uma estrutura biológica muito diferente da nossa pra causar empatia, ou seja, pra ensejar a aplicação reflexiva do sentimento do outro sobre a própria psique. Quase tão difícil quanto é ter empatia pela formiga, pela lombriga, pelo carrapato ou pela barata em que se pisa (eu não! Deus me livre de chegar perto o bastante de uma barata pra pisar nela!). Mas quando você pesca um peixe, com sangue, coluna vertebral e dois olhinhos, a coisa começa a mudar de figura. Por que? Porque é uma vida suficientemente semelhante à nossa pra permitir empatia, e a coisa piora quanto mais parecido conosco for um organismo: anfíbios e répteis têm quatro membros, aves e mamíferos, além disso, têm sangue quente, a coisa vai ficando difícil. É antropocentrismo, especismo puro. 

Isso é ruim? Não, é natural. O equilíbrio, a maturidade, se encontra em algum ponto entre a indiferença psicopática ao sofrimento e morte que causamos quando, obrigatoriamente, matamos pra viver, e a neurose dos que, matando igualmente, sofrem seletivamente pelos organismos que elegem como símbolos da sua própria bondade superior. O resto é oportunismo comercial e político.

Paula Felix estuda no Curso On line de Filosofia

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