Arte e indivíduo - Fazer o caminho de volta da primeira e curar o segundo

Por Lucília Coutinho 
Ninguém sabe direito por quê a I Guerra, a Grande Guerra, começou. Mas sabemos que pouco antes houve a belle époque, que morre em 1914.

A belle époque, ao mesmo tempo em que produziu a graciosidade do Art Nouveau, também produziu o expressionismo, depressivo, eventualmente chocante.

Seria uma era de polarização cultural? De um lado, o design agradável e superficial, o conforto, la joie de vivre; de outro, artistas que captavam os subterrâneos dos sentimentos que eclodiam em mal estar.

Embora a pseudoarte de nosso tempo seja mais imposição publicitária de uma casta que a percepção real do que nos cerca, pois até os artistas estão embotados, ela é tida como representativa, mas só desta casta, não do mundo.

O artista produzia melhor quando recebia encomendas: traduzia os desejos do cliente em linhas e cores. Quando se tornou independente, pintando apenas para si, deixou de dialogar com o mundo e foi cooptado pela sedução do sustento não mais vindo de indivíduos, mas de corporações sem rosto.

O surgimento do romance, nos idos do século XVIII, apaga o herói e evidencia o indivíduo comum. O século XX apaga o indivíduo em prol do coletivo.

Acho que temos que fazer o caminho de volta: curar o indivíduo para ressuscitar o herói. Temos heróis, mas eles são massacrados pelo coletivo. Só indivíduos conscientes de sua unicidade podem proteger nossos heróis, pois vamos precisar muito deles.

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