Voltamos à estaca zero







A década de 90 foi promissora para o conservadorismo, liberalismo e cultura de direita no Brasil. Certamente, o maior expoente foi o professor Olavo de Carvalho que, com a sua personalidade, conseguiu abrir uma pequena brecha no campo cultural de dominação esquerdista. Não que ele tenha conseguido isso só ou de forma “mágica”, pois existiam operadores culturais que agiam com o mesmo objetivo, porém, com outra forma. Por exemplo, Roberto Campos, Aristóteles Drummond, Miguel Reale e o ainda atuante Ives Granda Martins, cada um em seus respectivos campos de atuação. O mercado editorial era escasso, os debates eram realizados em pequenos grupos e em salas alugadas. A internet ainda era um campo inexplorado, tendo apenas um início de evolução para as massas em meados de 1995.

Em 2016, ou seja, vinte e um anos depois, a cultura de conteúdo de direita (se assim podemos dizer) mudou potencialmente, os meios de acesso são outros, os conteúdos estão em vídeos, aulas, livros, apostilas, novos autores e velhos desconhecidos até então foram colocados à disposição, porque alguns resistiram durante a travessia perigosa do ambiente cultural gramsciano e marcuseano dominante na década de 90.

Nos dois ciclos culturais da direita, a palavra comum dos intelectuais era: “estudar”. O que significa montar uma base e ambiente saudável para que as ideias e objetivos pudessem ser concretizados. Toda civilização foi construída dessa forma: estudo, e depois ação política.

Contudo, a imaginação revolucionária tomou conta dos direitistas adotando de forma automática a lição de Marx - “A vida social é essencialmente prática. Todos os mistérios que seduzem a teoria para o misticismo encontram a sua solução racional na práxis humana e no compreender desta práxis; e os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes; a questão, porém, é transformá-lo.”. Com isso, Marx pretende que a ação mude o comportamento, ou seja, não é algo interno e de convicção (suprassensível), mas sim de imposição e adequação ao sensível. O resultado é o apego às paixões desordenadas, e com isso, a construção do ambiente social caótico, fruto venenoso da ignorância.

Em 2022, ou seja, em seis anos, encontramos mais pretensos políticos de direita (novos salvadores da pátria e dos bons costumes!) que grupos de estudo, que fóruns de debates, de artigos científicos, professores qualificados, jornalistas sérios e comprometidos com a profissão. E o mais interessante, todos alinhados a partidos que até pouco eram inimigos dos valores consolidadores do conservadorismo ou liberalismo.

A sedução da práxis, sem base, tomou conta dos agentes de ação do direitismo. Teremos políticos sem cultura numa sociedade dominada pela cultura esquerdista (gramsciana e marcuseana) e sem meios de ação reais. Apenas quando a base for consolidada é que teremos meios de ação. O ensinamento da estátua de Nabucodonosor, em que o futuro da política de direita é representado pelos pés da estátua (de barro), assim se apresenta o Brasil: frigir dos ovos, voltamos à estaca zero...

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