Sabemos o que devíamos ter feito. Sabemos o que devemos fazer:







Sobre os 200 anos, não são 200. Completaremos 500 como civilização em 2034. Mas deixe estar. São 200 enquanto América Portuguesa separada do restante da civilização lusa.
Eu insisto na analogia: nossa condição nesses dois séculos só guarda analogia com a dos Estados Unidos da América, seja como base de modelo econômico, seja como destino de grandes fluxos de imigração europeia, seja pela condição de continentalidade, além de outras coincidências que tendemos a não aceitar dado o abismo cultural e econômico que foi se formando entre as duas civilizações nesse tempo. Tendemos a não aceitar porque o contraste é brutalmente desfavorável a nós. Por isso é mais cômodo nos compararmos com a Argentina, o mais agudo caso de uma sociedade que, tendo sido próspera, resolveu cometer e repetir todos os erros possíveis até se transformar no estado atual de terra arrasada.
Ficar contemplando com delicioso sadismo o fracasso do vizinho imediato ao sul não nos ajuda a compreender em que erramos em nossos 200 anos. Temos de olhar para o norte da América (nos roubaram o nome, pois o continente tem esse nome por conta da publicidade dos relatos das viagens de Américo Vespúcio à costa brasileira).
Olhar para o norte prova que fracassamos. De uma relação que não chegava a 2 para 1 no tempo de nossa independência (chegamos a ser mais ricos per capita antes), se chega ao século XXI na casa de 6 para 1 em renda gerada por indivíduo em média.
"Ah, mas o Brasil cresceu". No vácuo. O mundo cresceu exponencialmente nestes 200 anos, muito mais do que crescera na história universal inteira antes disso. O conjunto das Américas cresceu em média mais do que o mundo. Nosso crescimento se deve à adoção, deficiente, dos progressos do resto do mundo.
Em que erramos? Quando?
Começo por responder à segunda pergunta: o tempo todo, com tentativas efêmeras de acertar.
À primeira devemos responder olhando para os Estados Unidos da América. São dois os fatores:
1. Ensino básico. Dispensa maiores comentários.
2. Enfrentamento da questão da continentalidade. No último terço do século XIX, eles se jogaram freneticamente a cobrir seus enormes vazios com ferrovias, em seguida com rodovias. Foram sensacionais nisso, tão sensacionais que despontam como potência incontrastável em 1920.
Sim, teve também maior densidade demográfica, melhor situação geográfica (dois oceanos), segurança jurídica etc. Alegar que trapacearam, foi "imperialismo", é desculpa do tipo de ignorante ressentido que brota como erva daninha por aqui faz tempo. Antiamericanismo não é só doença. É miséria cognitiva.
Claro que está em tempo de acharmos solução para os dois grandes problemas e diferenciais de base, embora na presente quadra não haja projeto viável em nenhuma das duas direções. E temos uma vantagem competitiva que ainda não exploramos: não temos os conflitos étnicos que a cultura inglesa legou a eles. Embora nossa esquerda saquarema negue de pé junto, somos etnicamente homogêneos, interculturais e naturalmente tolerantes e propensos à cooperação com o diferente. Eles tiveram e têm sérios problemas com isso (que os ressentidos brasileiros insistem em importar).
Sabemos o que devíamos ter feito. Sabemos o que precisamos fazer. Os brasileiros esclarecidos sabem. Não sabemos como fazer e não temos vontade de fazer. Como em 1822, esperamos que Deus (ou Dom Sebastião) nos socorra. Não há horizonte portanto, mas um dia vai dar certo, disso tenho poucas dúvidas. Não por destino manifesto, a crença anímica que nos acompanhou o tempo todo, mas porque é improvável que nossa civilização deixe de existir e, em permanecendo, um dia encontrará o caminho da prosperidade. É até fácil, porque é óbvio. Se Portugal, que é nós mesmos em outro canto, encontrou...

Postar um comentário

0 Comentários

Close Menu