Sobre Jane Austen







Sou uma profunda admiradora da Jane Austen e sempre me dá dor no coração por ela não ter sido uma escritora prolífica como um Balsac. Infelizmente, ela morreu com apenas 42 anos nos deixando três obras primas e dois excelentes romances, além de outras obras menores que são um ensaio para se tornar uma grande romancista. Só me restou relê-las de tempos em tempos para sentir de novo o imenso prazer que me proporcionam. As três obras primas são "Orgulho e Preconceito", "Razão e Sensibilidade", "Mansfield Park" (o meu predileto desde que o li em tradução magistral de Raquel de Queiroz, nunca mais reeditado), além de Emma e Persuasão (outro preferido).

Nascida em 1775 , ela era uma das sete filhas de um pastor anglicano e viveu praticamente toda a sua vida na zona rural inglesa, que descreveu como ninguém em seus romances, criando personagens genialmente bem construídos, que de tão vívidos tornarem-se familiares para nós leitores. A autora não poupava críticas aos personagens, apesar ter muita simpatia por eles, e uma de suas grandes marcas é a ironia cortante com que os descrevia. Outra característica são os diálogos inteligentes, curtos e instigantes, além de observações primorosas - razão pela qual seja melhor ler a obra da autora antes de se aventurar em assistir aos muitos filmes adaptados e inspirados nela. Para ser franca, nenhum ainda me satisfez completamente. Somente "Orgulho e Preconceito" foi adaptado pelo menos cinco ou seis vezes para o cinema e televisão. O melhor deles foi a minisérie da BBC de 1995, com o Mr. Darcy maravilhosamente interpretado por Colin Firth mas a atriz Jennifer Ehle, além de parecer ser bem mais velha que a protagonista Elizabeth Bennet, não tem quimica com Firfh, o que prejudica a adaptação). O romance também inspirou produções de sucesso como "O Diário de Bridget Jones" - que é originalmente um livro também - e "Simplesmente Amor". Apesar de protagonistas inesquecíveis, o centro da obra de Jane Austen é a pequena nobreza rural da Inglaterra e as famílias que a circundava. O humor, outra característica extraordinária da autora, ácido, fino e íntimo, faz-nos sentir como se estivéssemos com ela em frente a lareira em sua casa em

Steventon, rindo silenciosamente da sua argúcia com que desmascava a hipocrisia daquele meio campesino. Infelizmente, Jane ficou com a fama tremendamente injusta e burra, em certos meios incultos, de romancista para mulherzinhas. Isso ocorre para aqueles que não lêem com a profundidade necessária a obra de uma das maiores escritoras de língua inglesa, o que em terra de Shakespeare e Dickens não é pra qualquer um.


Stella Caymmi é Doutora em Literatura Brasileira

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