Era uma vez um conto da era do chip de tudo

 



Era uma vez um povo que decidiu tornar a vida mais fácil por meio da tecnologia. O caminho? Eles instalaram em seus braços um chip de tudo! O chip de tudo era uma maravilha! Ele continha todas as suas informações médicas (puxa, isso seria muito útil ao dar entrada inconsciente em um pronto socorro!), todas suas informações de log in (puxa, isso seria muito útil para acessar redes sociais sem ter que ficar lembrando de 30 senhas diferentes!), todas suas informações bancárias com cartões de débito e crédito (puxa, isso seria muito útil para fazer e receber pagamentos sem sequer utilizar um smartphone!), e todas as chaves de sua casa (puxa, isso seria muito útil para não ter que sair carregando pedaços de metal por toda parte!). Com o chip de tudo seria possível carregar por aí seu passe de ônibus e metrô, o comando de ignição de seu carro, sua agenda de contatos, seus documentos de identidade, os ingressos de shows e passagens aéreas que você comprou, a reserva daquele hotel, acessar suas aulas na faculdade e o prédio do escritório, autorizar consultas médicas e uma infinidade de outras “utilidades” do dia a dia. Nenhum papel a mais, nenhum gadget a mais, nenhuma burocracia, nenhum trabalho adicional. Bastaria aproximar seu punho dos leitores do “chip de tudo” e voilá!, sua vida está resolvida! 

Tudo ia bem durante os primeiros anos até que, um belo dia, um sujeito desse povo avançado falou algo que desagradou aos controladores do chip de tudo. Uma bobagem de nada. Ah, mas você sabe como são os sentimentos humanos, não? O burocrata controlador sentiu-se ofendido em sua estação de trabalho e, por meio de um rápido memorando muito bem preenchido, obteve uma autorização instantânea para desativar por algum tempo o “chip de tudo” daquele falastrão. Na rua, ao tentar acessar a Internet por puro entretenimento enquanto saia do trabalho, o “falastrão” viu que estava bloqueado. “por favor, reapresente seus dados de log in digital”, avisava a tela do equipamento sofisticado. Ao chamar um táxi para ir para casa, viu que suas autorizações de crédito haviam desaparecido. Até mesmo seu saldo no banco eletrônico não estava mais lá. Ao tentar abrir a porta de casa, o alarme soou e a polícia veio para ver o que estava acontecendo. “O Sr. tem certeza de que mora aí?”, perguntaram os oficiais da lei. Em uma crise aguda de ansiedade, o homem do chip de tudo foi levado ao hospital, onde teve o atendimento recusado por falta de identificação pessoal adequada. “Lamentamos o inconveniente, caro cidadão, mas este é o novo protocolo operacional previsto em Lei, como o Sr. bem sabe…”. Por sorte, ninguém soube do problema. Ou, quem soube, evitou com grande cuidado falar qualquer coisa a respeito. Afinal, quem mais queria arriscar um block em seu maravilhoso “chip de tudo”? E viveram todos felizes para sempre.

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