Wonka: um conto de empresários do mal e capitalismo de compadrio



Wonka (2023) é um filme que mostra que antecede a amada história de A Fantástica Fábrica de Chocolate, de Roald Dahl. Wonka conta a história de um jovem Willy Wonka, um vendedor de chocolate em ascensão e mágico, que desafia o domínio de um cartel de chocolate.

Como se poderia imaginar, o filme é repleto de cenas que colocam a iniciativa privada sob uma luz negativa. Os principais vilões são empresários estereotipados do cinema que farão de tudo, até mesmo assassinatos, para alcançar sua ambição de lucros mais altos. O cartel constantemente viola a propriedade privada de Wonka, primeiro envenenando sua mercadoria e depois tentando assassiná-lo. 

Outra cena mostra Wonka assinando um contrato com termos ocultos que essencialmente o torna um escravo. Com a duvidosa legitimidade desse contrato, é improvável que qualquer sistema jurídico justo honrasse um contrato tão fraudulento. O filme até retrata a igreja como uma instituição corrupta, onde padres aceitam subornos de chocolate em troca de atuar como fachada para o centro de operações do cartel. 

O filme mostra claramente a livre iniciativa sob uma luz negativa, mas, apesar de suas falhas, há um lado positivo: sua denúncia do capitalismo de compadrio. Mesmo que os maus empresários sejam os principais vilões do filme, esses empresários utilizam o governo para manter seu domínio sobre a indústria do chocolate. Sem a intervenção do governo, não haveria conflito, exceto por talvez Wonka precisar pagar aqueles que o escravizaram injustamente.

Wonka sonha em montar uma loja nas Galerias Gourmet, um centro altamente movimentado onde empresas de chocolate estabelecidas se instalam, que está repleta de regras onerosas que punem os novos entrantes no mercado. As vitrines vazias têm avisos como “Não Sonhe Acordado”, que vêm com um cronograma de multas que são vigorosamente aplicadas pela polícia. 

Uma cena inicial mostra um policial admoestando Wonka por sonhar acordado, estendendo a mão para o pagamento da multa. Tal regra certamente sufocaria a concorrência potencial para aqueles que sonham em abrir sua própria loja. Além disso, as Galerias Gourmet proíbem estritamente a venda de chocolate sem loja. Este é o maior impedimento para Wonka durante a maior parte do filme. Sem uma loja, ele não tem legitimidade legal para operar seu negócio. Wonka tinha que ficar constantemente um passo à frente da polícia. 

Em uma sociedade livre, ele não teria que lidar com essa proibição (dependendo de quem é o dono do terreno sobre o qual vende chocolate). Em vez disso, a polícia confisca seus ganhos e o retira do local. O cartel também usa métodos extralegais para manter seu privilégio de monopólio. O chefe de polícia é pago pelo cartel do chocolate ao longo do filme. Ele constantemente persegue Wonka por causa disso. Tudo isso ilustra a aliança entre governo e grandes empresas. As grandes empresas estabelecidas apoiam uma regulamentação que prejudica desproporcionalmente os novos operadores no mercado, de modo a proteger a sua incumbência. 

Isso é chamado de captura regulatória, uma abordagem que sustenta que a regulação serve aos interesses das empresas dominantes e não ao interesse público. As intervenções governamentais pró-cartel em Wonka claramente não são exceção. No entanto, apesar das intervenções do governo das quais o cartel do chocolate claramente se beneficia, o filme opta por se concentrar nos empresários vilões. O filme reforça isso ao retratar o aparato público como não necessariamente mau. Na verdade, um policial de nível inferior está entre as primeiras pessoas a demonstrar caridade a Wonka, dando-lhe algum dinheiro para pagar um quarto. 

Esse mesmo policial prende o chefe de polícia no final pelo comportamento corrupto do chefe. Além disso, o chefe de polícia é inicialmente relutante em continuar suas atividades corruptas, mas é posteriormente persuadido pelos bolsos profundos do cartel de chocolate. Voltando à captura regulatória, é importante notar que a raiz do problema não são as empresas, mas o governo. Se o governo não existisse, os interesses empresariais seriam forçados a competir sem privilégios especiais. Nesse caso, a ascensão de Wonka teria sido uma história muito mais curta. Consequentemente, o filme deveria ter dado uma imagem mais matizada do cartel, talvez retratando-os como empresários compadrios, mas competentes, que de outra forma seriam atores morais na ausência de intervenção do governo. 

Em última análise, Wonka, embora seja um filme charmoso e divertido às vezes, retrata a livre iniciativa sob uma luz negativa, apesar de Wonka ser um empresário que é sufocado por políticas governamentais anticompetitivas. Se olharmos com atenção, Wonka é, na verdade, uma denúncia do compadrio. O sistema legal ao qual Wonka está sujeito impõe multas onerosas, regulamentos e contratos fraudulentos, e esse sistema tem uma força policial que aceita subornos de empresas incumbentes. 

Infelizmente, o filme opta por criticar os males dos empresários, retratando-os como imorais e às vezes incompetentes. Por essas razões, eu só recomendo cautelosamente Wonka por seus tons de anticompadrio. O filme teria sido melhor se entregasse uma história mais matizada do que um conto em preto e branco de um pequeno empresário enfrentando empresários malvados e muitas vezes que cantam e dançam para o sofrimento dos desfavorecidos. 

Por Benjamin Seevers

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