O tal do Tercio entrou em contato com o Bolsonaro para expressar sua preocupação quanto aos liberais, que eu também compartilho e que mencionei no meu último post. Segundo Tercio, ele e Bolsonaro conversaram por uns quarenta minutos ao telefone, e a impressão que Tercio ficou ao fim da ligação foi a de que Bolsonaro não deu a importância devida às suas queixas. Depois de ser ignorado, Tercio encontrou o Loryel e combinou o hangout para contar sobre sua investida que falhou e para expressar suas preocupações de que Bolsonaro, a esta altura, devido a sua postura na ligação telefônica, tenha se vendido aos liberais e talvez esteja até mesmo mancomunado em algum plano sinistro com os socialistas. Loryel já tinha algumas idéias loucas sobre o Bolsonaro e o negócio ficou meio bizarro no hangout. Tercio tentou mostrar que liberais são Esquerda, que só mudam em suas opiniões sobre mercado (o que eu concordo), daí Loryel partiu dessa conclusão para avançar numas teorias malucas.
Sobre o Loryel, devo dizer que não acompanho o que ele fala, e que só vejo, às vezes, algo dele que aparece no meu feed. Outro dia ele disse que a causa da burrice no Brasil era o pensamento dialético. Que bobagem! Na verdade, a incapacidade de pensar dialeticamente (Hegel) que é a razão do brasileiro não entender a estratégia comunista e muito menos os outros aspectos da realidade -- essa é uma das razão do brasileiro ser tão burro, mas também não é a única e nem a principal. O analfabetismo funcional deve estar no topo da lista. A impressão que fiquei sobre o Loryel Rocha foi a de que ele tenta dizer coisas que o Olavo disse há vinte anos, passando a imagem de que ele (Loryel) descobriu hoje, sozinho. E o pior: ainda consegue falar um monte de merda que o próprio Olavo nunca teria dito, mesmo copiando e com acesso fácil à fonte. O problema não é repetir o Olavo. O problema é fazer isso falsificando o que Olavo disse e, em alguns casos, como esse aí da dialética, invertendo o sentido da coisa.
O instituto do Loryel, de nome Mukharajj, é de 1997, mas não sei dizer quando que começaram a falar de filosofia e ciência política propriamente ditos, ou se criaram cursos específicos sobre essas coisas. Eu tive o meu primeiro contato com esse instituto pelo Facebook mesmo, por pessoas que o indicaram para pessoas que não gostavam do Olavo, como alternativa ao Olavo (daí já fiquei com a pulga atrás da orelha). O assunto deles era mais História e uns negócios de Cultura Simbólica Tradicional luso-afro-brasileira. O COF começou em 2009, mas Olavo já dava cursos avulsos desde o início dos anos 90 ou antes. O seminário online foi criado para reunir esses cursos, disponibilizá-los online e ser uma plataforma para o COF, que tem aulas contínuas desde 2009 e que já passaram das 400, todos os sábados praticamente. O que penso é que Loryel quis se aproveitar desse público conservador e de Direita que surgiu após Olavo abrir as trincheiras e começou a dar mais foco em filosofia e ciência política para aumentar sua cartela de clientes, mas ele não domina esses assuntos. Viu apenas um nicho a ser explorado e que poderia gerar uma grana extra.
Se ele faz por má fé eu não sei, mas Loryel de fato é incapaz de lidar com os assuntos que mete a mão. Leu algumas coisas sobre Gramsci e tá fazendo uma salada dos diabos. Até na História, área que aparentemente é a que ele possui mais base, Loryel claramente não tem critério algum para selecionar os documentos. Um exemplo disso: um amigo comentou que ouviu um programa de rádio em que ele falava do Gustavo Barroso, e louvava o Gustavo por ter traduzido um livro tão "importante" e "central" como "Os protocolos dos sábios de Sião" -- obra que os antissemitas utilizam para basear seus preconceitos e negar o holocausto. Esse fato me fez pensar na possibilidade de Loryel ter uma pegada antissemita e não gostar do Bolsonaro porque este defende Israel, tira foto com a bandeira e diz que, como Trump, vai reconhecer Jerusalém como capital de Israel. Não sei.
Outro dia vi de relance uma treta do Loryel com o Rafael Nogueira sobre o Bonifácio: Loryel se apoia no trabalho de Tito Livio Ferreira para defender a tese de que a Maçonaria é dividida internamente entre republicanos de tipo jacobino e de monarquistas do tipo inglês (aqui entra o Bonifácio). O Nogueira, pelo que entendi, segue uma linha do Otavio Tarquinio, que coloca Bonifacio como um pai fundador do Brasil Império. Mas eu nem vi como a coisa terminou. Posso estar errado, mas a minha impressão é a de que Loryel é só mais um picareta arrivista que faz diversos posts no Facebook falando um monte de groselha para manter um certo tráfego orgânico em seu perfil e atrair mais clientes para comprar suas bugigangas, estratégia bem comum entre liberais e utilizada também por gente tipo o Rodrigo Constantino -- que fez a mesma coisa que o Loryel está fazendo agora, só que, em vez de Filosofia, Simbologia e História, Constantino fala de economia e qualquer outra merda que dê ibope.
Uma vez o Constantino criou um curso estilo COF para ensinar economia e, pelo que eu ouvi, ele pediu aos Bolsonaros para que divulgassem, quem sabe em troca de matrículas gratuitas onde Constantino iria ensinar economia aos Bolsonaros. Mas os Bolsonaros teriam recusado, o projeto do Constantino não foi pra frente e caiu no ridículo. Por essas e outras agora ele odeia os Bolsonaros, mas, às vezes, faz algum post defendendo o Jair e os filhos, na esperança de ser chamado para algum cargo num futuro governo Bolsonaro. Faz isso também porque sabe que falar do Bolsonaro dá ibope para os portais de merda os quais ele publica. E público gera receita, quando as pessoas clicam no adsense ou assinam a Gazeta do Povo.
Mas vamos às falas do Loryel no Hangout: primeiro alguém precisa avisar ao tal Loryel Rocha que o apelido 'Mito' atribuído ao Jair Bolsonaro deu-se por ocasião de suas respostas às perguntas feitas pelos jornalistas em entrevistas ao longo de toda a carreira do deputado, por suas declarações em plenário, por falas em brigas que Jair se meteu com outros parlamentares fora da Câmara e por seu estilo de vida desinibido, que contrasta com sua postura séria e hierárquica, fruto de sua carreira militar e na Câmara -- o que torna certos hábitos e atos do deputado engraçados, cômicos; como, por exemplo, o fato dele usar um relógio Cássio G-shock do modelo mais simples, comer cachorro-quente no treiler da esquina, pescar piaba sem camisa com o barrigão de fora, entre outras coisas.
Foi por causa disso que Bolsonaro ganhou o apelido de 'Mito', porque suas respostas e suas ações foram classificadas com um adjetivo que estava em voga no momento. Tanto isso é um fato arquissabido que o Pânico na TV tem um quadro chamado 'Mitadas do Bolsonabo'. Quando alguém dá uma resposta que é uma invertida no oponente, diz-se, em linguagem de gíria internética, que ele mitou, que deu uma mitada, logo, que é um mito. Não tem nada a ver com o termo Mito em simbologia, literatura, filosofia, etc. Entendeu, Loryel? Não tem nada a ver com suas viagens de querer envolver simbolismo e simbologia no negócio. Você tá viajando na maionese. Entendeu esta expressão ou preciso explicá-la também?
O apelido se consolidou em ocasião dos memes da página Bolsonaro Zuero, que fazia várias postagens com essas falas e posturas do deputado, montadas em cima do meme 'Deal With It" (Lide com isso, aquele do Óculos de pixels) e do meme "Turn down for what". Se você não entende de memes, principalmente de memes políticos (categoria criada inicialmente na página Bolsonaro Zuero), não vai conseguir entender e nem explicar o fenômeno Bolsonaro, principalmente entender como se formou parte de sua militância virtual e nas ruas. E não adianta dar carteirada de especialista em simbologia, porque vai acabar por querer ver simbolismo onde só existem piadas de Internet. Se quer entender como piadas são uma forma de resistência contra o comunismo, procure o livro "Foi-se o martelo – A história do comunismo contada em piadas", de Ben Lewis.
Segunda coisa: Loryel quer emplacar uma tese alucinada de que a Esquerda quer empurrar todos os três regimes totalitários para o colo da Direita: fascismo, nazismo e agora também -- vejam só vocês que ousadia -- o comunismo! Qual a evidência dessa estratégia articulada e maligna da Esquerda, segundo Loryel? Que a Esquerda fez isso com o nazismo e o fascismo, logo o próximo passo é fazer também com o comunismo (?).
Segundo Loryel, o Cristianismo seria o símbolo máximo da Direita, e a infiltração de esquerdistas nas igrejas teria como único objetivo empurrar o comunismo para o lado Direito do espectro político (?). Vou repetir: os comunistas (que são de Esquerda) estariam se infiltrando no Cristianismo (que seria de Direita) para que as pessoas pensem que o comunismo é, na verdade, uma ideologia de Direita. Entenderam? Se tudo der certo, comunismo, nazismo e fascismo, um dia, serão conhecidos como ideologias e regimes de Direita. Foi longe nessa alucinação. Todo mundo sabe que, quando o comunismo dá merda, a Esquerda se limpa na própria sujeira, chamando a experiência fracassada de Direita. Mas disso concluir o mesmo que Loryel concluiu é um salto hermenêutico que faria inveja ao Duplo Twist Carpado da Daiane dos Santos.
Daí entra o Bolsonaro na jogada. Loryel disse que Bolsonaro foi escolhido pelo PT para representar um papel de inimigo, que Jair teve seu nome colocado no caderno de Teses do partido como uma estratégia para deixar o Jair famoso, que o deputado foi escolhido e catapultado pelo PT para ser um símbolo que representa o anti-messianismo do Lula. Qual justicativa de tal delírio rochiano? Diz Loryel, do alto de seus conhecimentos sobre simbolismo e simbologia, que Bolsonaro foi escolhido pela esquerda em seu plano porque o segundo nome do Jair é Messias (?). Bolsonaro seria um agente infiltrado pela Esquerda, mas que se apresenta como Extrema-direita, que estaria se associando e se infiltrando no cristianismo, para então se revelar como um Agente Comunista, com o objetivo de fazer todo mundo pensar que o comunismo é de Direita.
Surreal, não acham? Essa eu não preciso nem comentar, de tão idiota e absurda que é. O cara deve usar algum tóxico pra pensar um negócio desse. Não é possível. Mais um que não sabe nada sobre a vida pública e sobre a carreira política de Bolsonaro, mas desta vez o sujeito passou dos limites.
Tudo isso porque Bolsonaro não deu atenção ao Tercio no telefone e porque Jair saiu do PATRIOTA e deve ir pro PSL. Tercio estava envolvido no PATRIOTA e não gostou do Jair ter saído. Repito: a preocupação quanto aos liberais é válida, mas não inventem verdadeiras teorias da conspiração sem base alguma na realidade. Bolsonaro precisa se orientar com o professor Olavo, mas não é inventando teorias malucas que conseguiremos isso.
Eu parei de assistir ao hangout porque meu cérebro já estava começando a escorrer pelo nariz.
Pedro Henrique Medeiros
0 Comentários